CHALAÇA a peça

“Os processos que ocorrem no Brasil se dão à margem da história, e se história significa ‘tornar consciente’, os processos em curso no Brasil se dão à margem da consciência inclusive, ainda, do próprio brasileiro.” - Vilém Flusser
7.7.06

Crítica - Maria Lúcia

Raízes do Brasil

Em Chalaça, a história do País é mostrada sem nenhuma pompa

MARIA LÚCIA CANDEIAS*
São Paulo

Tomando por base o romance “O Chalaça” do jornalista e escritor José Roberto Torero e o livro “Dom Pedro I, Um Herói Sem Nenhum Caráter” da cientista social e política Isabel Lustosa, Carlos Canhameiro estréia como dramaturgo com o “Chalaça — A Peça”, em cartaz no Sesc Santana, até 9 de julho.

A adaptação retira da obra da Isabel os fatos oriundos dos bastidores da gestão de D. Pedro I no Brasil. Do premiado livro de Torero, por sua vez, é explorada a versão ficcional da vida do alcoviteiro e melhor amigo do imperador, cuja verdadeira história permanece nas sombras, como convém a uma iminência parda.

A presença de Chalaça liga as cenas que isoladas não dariam conta de um
texto sólido porque seriam episódios soltos. É o primeiro trabalho de dramaturgia de Canhameiro, e este começo parece auspicioso.

No palco, ao todo são nove atores e trinta e cinco personagens. Entre eles destacam-se
Fábio Basili e o próprio autor, Paula Mirhan e Débora Monteiro. Mas vale dizer que o
elenco agrada como um todo, transmitindo muito da animação do palco para o espectador.
Tudo acontece num cenário muito simples e muito adequado de Daniela Elias e de Gabriel
Braga. Eles também assinam os ótimos figurinos que são de uma nobreza estilizada, como de resto é todo o comportamento dos personagens durante a monarquia. E o espectador fica a imaginar se essa bagunça era característica da nobreza brasileira, pois D. Pedro I tornou-se imperador sem muito preparo, diante da necessidade de D. João VI assumir o trono em Portugal, e quanto dessa desordem perdura no Brasil de hoje. Algo a se pensar.

A direção de “Chalaça ” leva a assinatura de Márcio Aurélio, o que já é rótulo de qualidade,
não só na condução do elenco como na da cena. O público nem se dá conta que a produção é econômica. O ritmo, todo o tempo, é como o de uma festa, como se se tratasse de uma anedota. A peça tem o pique da Copa, mas sem a tensão dos jogos. É um teatro cuja face séria se dilui à primeira vista, mas não depois disso. Vale assistir.

*Doutora em Teatro pela
USP e professora da Unicamp

3 Comments:

At 6:20 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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At 11:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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At 7:25 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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