Crítica - Aguinaldo Cunha
CHALAÇA a peça
Aguinaldo Ribeiro da Cunha
Está em cartaz no TUSP (Teatro da Universidade de São Paulo), no antigo prédio da Rua Maria Antonia onde funcionava nos anos 60 a Faculdade deFilosofia, um interessante espetáculo montado por jovens atores egressos da UNICAMP: Chalaça, a Peça, adaptação feita pelo próprio elenco do premiado romance escrito por José Roberto Torero.
Este é o segundo espetáculo feito pelo grupo da UNICAMP, que adotou o significativo nome de Cia. Les Commediens Tropicales. A montagem anterior, de muito boa qualidade, e também sobre tema histórico, foi dirigida por Márcio Aurélio, um dos grandes diretores brasileiros contemporâneos. Márcio, agora, volta a atuar com o grupo nessa peça sobre uma figura de destaque da história brasileira, na época da vinda da corte portuguesa.
Torero recuperou em seu romance um personagem cativante: Francisco Gomesda Silva, cuja alcunha era o Chalaça. Nascido em Portugal por volta de1790, filho ilegítimo de um grande fidalgo e de uma camponesa, acompanhou a corte ao Brasil em 1808 e aqui tornou-se serviçal do Paço egrande amigo do príncipe herdeiro, D. Pedro, a quem acompanhava na vidaboêmia. Inteligente e culto, mas intrigante e ambicioso, aliou-se à Marquesa de Santos e seu grupo contra D. Leopoldina e José Bonifácio e,mais tarde, contra o Marquês de Barbacena, o último primeiro-ministro doPrimeiro Reinado. Durante todo o governo de D. Pedro, sempre agindo às ocultas, como eminência parda, o Chalaça favoreceu o partido português eabsolutista.
Perseguido pelo Marquês de Barbacena e por D. Amélia (a segunda imperatriz), o Chalaça foi exilado na Europa em 1830, nunca mais retornando ao Brasil. Reconciliou-se pouco depois com D. Pedro (após a abdicação do imperador), apoiando-o contra D. Miguel na guerra pela sucessão do trono português. No romance, - e na peça – o Chalaça casa-se com a imperatriz-viúva, D. Amélia de Leuchtenberg, mas nenhum historiador sério concorda com a veracidade desse casamento.
O tema é histórico, os personagens também são, mas não se pretendeu fazer História e, sim, encenar uma versão romanceada da vida e da época dessa figura original do Brasil do início do século XIX. A vida da corte imperial sob D. Pedro ressurge no palco, ainda que sem a preocupação da fidedignidade histórica.
Márcio Aurélio dirigiu um espetáculo atraente e instigante, de fácil interação com a platéia. Muito bem concebidos cenários, figurinos,iluminação, música – Márcio, como poucos diretores da cena brasileira atual, tem sempre um olhar moderno e original sobre o fazer teatral.
O elenco, jovem, compensa com garra e vigor o que lhe falta, talvez, em experiência. Esperemos que outras montagens interessantes da Cia. Les Commediens Tropicales se sucedam.
Para o público uma boa oportunidade de se ver bom teatro (numa linha afastada do grande espetáculo, mais próxima à linguagem experimental e alternativa) e de refletir sobre nossa história.
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