CHALAÇA a peça

“Os processos que ocorrem no Brasil se dão à margem da história, e se história significa ‘tornar consciente’, os processos em curso no Brasil se dão à margem da consciência inclusive, ainda, do próprio brasileiro.” - Vilém Flusser
7.2.07

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Crítica - Sérgio S. Coelho

Crítica/teatro/"Chalaça - A Peça"

Commediens mantêm ironia, mas perdem a insolência
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

A Companhia Les Commediens Tropicales, com o escracho do nome em falso francês, exerce com plenos poderes a insolência da juventude.
Some-se a isso uma vocação para a pesquisa histórica, sob a direção de bons mestres como Marcelo Lazzaratto (com quem despontou em um "Terror e Miséria no Terceiro Reich", de Bertolt Brecht, que marcou o Festival de Curitiba) e Márcio Aurélio (com quem já fez um "Galvez Imperador do Acre") e temos uma arma afiada apontada para a desmistificação da história oficial.
Desde "Galvez", de elenco volumoso, a companhia se enxugou bem e ganhou em polivalência. Este "Chalaça" está em cartaz desde junho do ano passado e chega a esta terceira temporada com um intenso rodízio de papéis, o que teve o mérito de nivelar por cima a competência de todos, sem nunca perder o apetite de ir em todas as bolas.
O termo é adequado para o universo de José Roberto Torero, cronista de importantes batalhas nos campos simbólicos, isto é, os de futebol, além da militância no cinema. Foi lançado enquanto autor em 1995, pela irreverência dessa biografia de Chalaça, a eminência parda de dom Pedro 1º.
A adaptação de Carlos Canhameiro, que também está no palco, trata de igual para igual com a ácida ironia de Torero e ainda acrescenta a sólida base da pesquisa de Isabel Lustosa. Com tal fé no taco, a companhia pode se dar ao luxo de dispensar a trama de Torero, construindo o espetáculo só com depoimentos, numa radicalização da proposta de um teatro literário.
Como a meta comum é a devassa das pequenas e grandes vilezas das pequenas e grandes figuras da pátria, o formato final foi o de uma CPI, coincidindo, no momento de sua estréia, com o auge do carnaval midiático da CPI dos Correios, que se afogou em histrionismo pizzaiolo.

Espelho da realidade
Márcio Aurélio tem no currículo uma boa experiência nessa aventura de fazer o palco espelhar a realidade iminente: seu "Ricardo 2º" fez Shakespeare ser o porta voz dos penúltimos dias de Collor, com uma acuidade extraordinária.
A sua direção é fundamental no espetáculo também por endossar a ousadia dos jovens ao preço de uma precisão de marcas com uma dinâmica sem concessões.
A seqüência desarmante de uma competição de escatologia até as últimas conseqüências contribui muito, imagina-se, para garantir aos Commediens uma torcida fiel.
No entanto, é preciso constatar que "Chalaça" é uma piada que envelheceu. Por mais que os atores continuem a se divertir em cena, seja qual for o número de pagantes na platéia, só as carismáticas caracterizações que se sucedem em "freak show" não são suficientes para manter o interesse pelo tema, agora que a convicção da impunidade condena a classe política em bloco, em meio a um tédio conformista.
Ninguém tem mais ânimo para se indignar, os risos se fazem amarelos, e a insolência se dilui. Este é o risco da proposta do espetáculo: sendo quase uma revista do ano, por mais que embasada em uma importante pesquisa histórica, "Chalaça - A Peça" teria que atualizar suas referências ao diário circo político. Mas não dá mais para rir disso. Qual a próxima aventura, Commediens?

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CHALAÇA - A PEÇA
Quando: qua. e qui., às 21h
Onde: Teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136)
Quanto: R$ 20